fevereiro 02, 2004

E depois disto, a saga de lamentos disfarçados pelo meu aparente conformismo estendeu-se :)

"Hoje estou triste. E é talvez por isso que me sinto tão livre para escrever. Falámos há pouco e senti-me deprimida. Não consigo deixar de pensar em Nós, que existimos apenas durante breves horas. Sim, horas... Sinto-me ridícula sempre que penso nisso: a miúda que ficou agarrada a uma coisa que nunca existiu na verdade, a miúda que pensa em ti todos os dias desde a última vez, a miúda que sonha sempre em encontrar os teus olhos, perdidos entre os estranhos na rua.
Vivo quase sempre angustiada, com um nó no peito. Não resolvemos tudo o que havia para resolver. Ambos sabemos isso. Mas esta distância, estes maldito quilómetros vão impedir-me sempre de te dizer que gosto de ti, não vão deixar que as nossas mãos se juntem, curiosas, como na primeira vez..."

"Por agora, só mais este pedaço de letra dos dEUS. Nas entrelinhas destes versos, sempre nos descobri aos dois.

'Is it bad that you're good for me? Did I love you just randomly? I'm caught in the flow of sound. And you're just some melody' "

"'Spread your love', Black Rebel Motorcycle Club


Há pouco pensava na última vez que te vi e na maneira como renasceu a ansiedade em mim. Passaste por mim num terminal rodoviário e eu quase entrei em pânico! O mundo das coincidências dá sempre que pensar...
Passaste a centímetros de mim e nem deste conta. Nem sequer sentiste que um coração ali acelerava com a tua entrada. Eu fiquei sem saber o que fazer. Tinha que olhar bem para ti, tinha que falar contigo e matar as saudades. Mas não sabia bem como. Inventei um motivo para passar de novo por ti e certificar-me de que eras tu.
Tu estavas sentado com um amigo, com o olhar completamente perdido no nada, com o olhar que eu não conhecia ainda. Nem reparaste que eu chegava perto de ti. Estavas perdido dentro de ti, dentro das tuas fantasias, dos teus 'filmes'. Provavelmente nem me reconhecerias se eu passasse ao largo. Mas eu não podia deixar aquela casualidade passar em branco.
Falámos por breves instantes. Eu, embaraçada com a situação, mas cheia de perguntas que nunca viram a luz do dia. Tu, completamente alheado da realidade, com os teus olhos transparentes perdidos noutra dimensão...( se ao menos todos soubessem como são belos, os teus olhos...). Agarraste a minha mão como se eu já não pudesse partir. Agarraste a minha mão com força ou, pelo menos, eu sentia-te assim. E era bom mas era proibido. Eu não podia desejar mais nada.
Parti em viagem com a tua imagem na cabeça. Não pensava em mais nada senão num possível-próximo-encontro. Fechava os olhos com força e pensava que tinha sido bom. Tinha sido tão pouca coisa mas eu estava contente. Preciava tanto de ficar sozinha! Precisava de silêncio para poder repetir vezes sem conta a tua imagem na cabeça.
Tu ficaste decepcionado com a tua reacção. Eu fiquei deslumbrada com o encontro. Talvez demais, agora que penso nisso...
Depois de 24 horas de sono, escreveste qualquer coisa como "não sei o que se passa entre nós.. mas passa-se.." e hoje sei ver que, mais uma vez, te deixaste apenas levar pelo momento. Dizes coisas que me agarram e que me aceleram o coração e depois tudo não passou de euforia momentânea.
Mas não faz mal. Eu também já aprendi a viver com os teus picos de entusiasmo. E gosto da maneira como me fazes sentir. Mesmo sabendo que nunca iremos a lado nenhum..."

"
'Breath control', Recoil


Dou por mim a pensar em ti antes de adormecer. Não está certo, é proibido. Mas quanto mais te tento afastar nesses momentos, mais a fantasia me revolve a cabeça. E foi provavelmente por causa disto que sonhei contigo uma série de vezes, na semana que passou.
Foi por estares aparentemente resolvido na minha cabeça que mais te (re)vejo. Se calhar pensei que podia passar por cima de tudo e fingir que nada tinha acontecido e não pensar que tudo podia ter ido muito mais além..
Tenho tantas saudades de me sentar no sofá do teu quarto, a tentar afastar os mosquitos que sobem do rio e a ver-te jantar a horas impróprias. E de repente, lembravas-te que tinhas que tomar banho e eu ficava sozinha, a tentar não olhar as fotografias da tua namorada.
Depois, entravas, fresco do banho, e sentavas-te na cama a fumar. Ia partindo o teu candeeiro de lava uma vez.. E nunca o acendeste para nos iluminar o quarto.
Víamos televisão até conseguirmos, com medo de.. só sei o medo que eu tinha. Tinha medo de não aguentar e beijar-te até não poder mais. Sempre foi tudo tão proibido, tão sub-entendido entre nós.. E mesmo sendo cautelosa como penso que sempre fui, ficaste. E eu já não sei o que devo fazer com isto."

(Vá lá, é só mais este..)

"'The way', Bonnie 'Prince' Billy


Ontem voltei a sonhar contigo. Não sei se será um bom sinal ou se não é sinal absolutamente nenhum. Pensei no sonho mas decidi não perder tempo a analisar aquilo que não tem explicação possível. Mesmo assim, é bom 'ver-te', seja de que maneira for.
O sonho foi muito simples. Estávamos numa festa qualquer e tu, quando me descobriste ali, mandaste-me uma mensagem que dizia apenas 'Eu e tu'. De seguida, passaste por mim e lançaste-me um olhar inquisidor, como que a perguntar se eu tinha percebido. Eu mandei uma mensagem a responder: 'Num dia qualquer'. Nem sei bem o que fazer com isto mas alguma coisa deve querer dizer.
Falta pouco para estarmos relativamente perto. Era bom se tudo se repetisse na realidade.."

Eu compreendo esses olhares inquisidores, de desdém. Mas se calhar sou mesmo pindérica (os textozinhos de amor fazem sempre sentido nas alturas de maior desespero...ai!)

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