dezembro 09, 2006

Vou no carro a conduzir depressa, não gosto de chegar atrasada. Caem uns aguaceiros tímidos mas eu já os vejo como se fosse desabar o céu. Páro na descida das Amoreiras, páro na rotunda do Marquês, páro na Fontes Pereira de Melo, assim não dá, assim nunca vou chegar a horas. O meu estômago quer rebentar com tanto nervoso miudinho e estou a pensar, enquanto conduzo, que não, não posso ser uma pessoa normal. Estaciono o carro e chego à porta - tu não estás. Pensei que já não vinhas, que te tinhas arrependido, que nunca tinhas tido a intenção de vir. Desci as escadas e subi-as novamente e tu estavas lá, como tínhamos combinado. Sentas-te ao meu lado, no escuro. Eu já vi o filme mas acho que é bom vê-lo contigo. O estômago dá-me tréguas por uns instantes.

Entramos naquela cave velha e fumarenta. Eu bebo a minha cerveja depressa, tu desdobras-te em atenções para tanta gente. Não podemos falar porque a banda está a tocar e por isso encostamo-nos à parede, as minhas costas viradas para ti até que a música acaba. Conversamos, eu a tentar ser natural, tu a tentares perceber se eu era natural. Dentro de mim havia uma voz a dizer 'Banana!'. Quando saímos do táxi rimos com a dificuldade de expressão do taxista e a localização da rua da Palmeira.

Conduzes-me na noite em que não ias decidir nada. Onde entras há sempre alguém que te cumprimenta, há sempre alguém que te pisca um olho ou que fica espantado por te ver. Descemos a rua dos Poiais de São Bento, paramos para nos abrigarmos num parque de estacionamento, continuamos e entramos: tu esperas música electrónica, eu o rock. Ganhei. Não há espaço para dançarmos, apenas para estarmos muito juntos. Demasiado juntos, diria eu numa outra altura. Eu não imaginava, tu não sabias e as coisas precipitaram-se na mesma. Ocupamos parte do balcão, enquanto bebemos mais cerveja. Somos dos últimos a sair quando se acendem as luzes e ganhamos um sorriso cúmplice do empregado.

Ainda há tempo para a rua do Século, para o Conservatório, para o Clube Mercado. Já era tão tarde, eu já estava acordada há 24 horas mas não o sentia. Quando me deixaste à porta do carro gostava que o dia pudesse ser bem mais comprido. Acho que foi bom. E sei exactamente o que isso quer dizer.

3 comentários:

M de M disse...

será que o amorrr anda no ar?
;)

M. disse...

Não :D

Pilipa disse...

Posso tentar adivinhar o que quer dizer? Borboletas na barriga? :)