maio 31, 2009

Ouvir * (e sentir) em repeat



Não sei se é de repente estarem trinta e tal graus sem eu ter percebido como. Não sei se são as searas já torradas, secas a perderem-se de vista, interrompidas apenas pelas sombras tímidas dos sobreiros à beira da estrada. Não sei se é por ter o peito quase a rebentar de coisas que não consigo dizer. Os meus olhos um dia rebentam com este querer tão bem, os meus olhos um dia param de conter as lágrimas e é um oceano que aí vem, um oceano de ternura, de beijos noutros olhos, um oceano cujo tamanho me ocupa toda por dentro. As minhas mãos um dia não param, procuram-lhe a pele em intervalos cada vez mais curtos, as minhas mãos um dia falam e serão elas a entregar a mensagem, serão elas a oferecer o absoluto. As minhas mãos não me traem como me traem os lábios, que querem falar, querem gritar isto que sinto. Dos meus lábios escapa a certeza a consumir-me sempre que se faz silêncio, escapa o romance que já não acreditava merecer. E quando olho para trás, quando penso em mim há cinco meses, há um ano ou há três, é como se eu tivesse sido toda uma outra pessoa, vazia de sentido, gravitando em volta de uma ideia remendada da felicidade.

Não sei se é desta tempestade de sentimentos, não sei se tudo acontece porque voltei a acreditar. Mas esta calma, esta tranquilidade natural tem o seu preço. Quando dei por mim, estava a chorar dentro do carro ou a empurrar os soluços para baixo em frente ao computador. Esta grandeza toda dá-me nós na garganta, baralha-me o discurso e faz-me estar deitada no escuro, simplesmente a sorrir com aquilo que me vai acontecendo. Já não são só borboletas na barriga, são as centelhas que me escapam dos olhos por ele me fazer assim feliz.

* o maravilhoso Sam Beam a cantar Boy with a coin.

1 comentário:

Anónimo disse...

que bonito...

todas as felicidades do mundo, torço que tudo dê certo ;)

um beijinho