março 23, 2011

Sobre pessoas

Em tempos, tive a mania que conseguia topar as pessoas à légua. Conseguia fazer imediatamente um retrato mental da pessoa que estava à minha frente, tirava-lhe as medidas às características mais evidentes, construía um perfil em poucas impressões. Com o passar do tempo, fui aprendendo que sou pessoa para errar muitas vezes nestas avaliações e fui mesmo obrigada a mudar muitas ideias feitas sobre pessoas, a reconhecer que tinha errado e a dar segundas oportunidades. Sei que as pessoas demoram muito tempo até se mostrarem completamente e que existem mil subterfúgios para esconder características de que não gostamos e por isso fui dando mais tempo para que as pessoas se revelem.

Mas a verdade é que, em relação a algumas pessoas, não sou capaz de ignorar os primeiros sinais de alerta. Desconfio sempre de três tipos de pessoas: pessoas demasiado afáveis no primeiro contacto, pessoas que descrevem as suas tragédias com pormenor a quem mal conhecem e pessoas que não gostam de comer. Sinto desconfiança quando estou com pessoas incoerentes, com pessoas que interpelam os outros sempre em tom de ataque, com pessoas que não tentam compreender que nem sempre tudo corre como queremos. E acho que ainda tenho olho para descortinar tentativas de manipulação (e eu que sou tão susceptível, só para não me chatear). Em relação a estas pessoas, o problema é que tendo a afastar-me nos primeiros momentos e a desligar-me de todas e quaisquer interacções. O facto de ainda confiar muito na minha primeira impressão faz com que seja muito difícil sentir-me próxima dos outros e fazer amigos com facilidade. Não que eu queira amigos com tanta rapidez, mas a verdade é que um bocadinho mais de espontaneidade não me ficava mal.

Voltar ao trabalho foi como uma catapulta que me lançou ferozmente para o meio dos outros. Senti muita dificuldade em integrar-me e encontrar no grupo aqueles que são os meus pares. E ainda hoje, já quase quatro semanas depois, sinto que me estou a enturmar e que já criei alguns laços (incipientes, é certo) com uma pequena parte do grupo. Mas sinto-me retraída sempre que a pessoa odd one out insiste que sabe tudo sobre todos os assuntos ou em partilhar connosco pormenores sórdidos sobre as suas relações que não funcionaram. E é assim que aprendo a ser mais comedida nas minhas palavras, a ouvir mais e a falar menos, a escolher as pessoas que mais se parecem comigo e a escolher minuciosamente os factos da minha vida que posso e quero partilhar com os outros. Muitas vezes senti que já sabia quase tudo sobre relações humanas mas hoje admito a minha imaturidade e ingenuidade: ainda tenho muito, muito que aprender. Entretanto, vou-me divertindo com pessoas que têm mil histórias interessantes para contar e dando às pessoas neuróticas a importância que merecem. Não sou um animal social mas gosto de sentir que sou uma pessoa com algum interesse.

4 comentários:

Nuno Guronsan disse...

E acabaste de descobrir um processo que subscrevo e que, na minha opinião, dura toda uma vida. Especialmente no que toca à "selva profissional" :))

Beijocas e tudo de bom para vocês os 3!

Tati disse...

olha sabes o que te digo:
um olho no burro e outro no cigano.:P

Helena Barreta disse...

Já dizia o meu pai: "Viver não custa, custa é saber viver".

Continuação de boa convivência com os seus colegas de trabalho.

Beijinhos

caracoleta violeta disse...

Como eu te compreendo...mudei de trabalho em Janeiro deste ano. Hoje, três meses depois,posso dizer que já estou quase integrada. Amigos no trabalho não os tenho. Tenho sim pessoas com quem consegui estabelecer uma boa relação profissional.
Hoje em dia a amizade é uma coisa quase descartável. Num mês temos um amigo, no mês seguinte já não. Eu não tenho muitos amigos, mas os poucos que tenho são verdadeiros.
Posso estar a ser muito redutora, pode até ser um preconceito, mas amigos no trabalho são uma raridade. Acontece, já aconteceu comigo, mas cada vez mais vejo que é uma coisa rara e preciosa.