agosto 21, 2011

A coragem é uma coisa que ainda não nos assiste



De há uns tempos para cá, algumas pessoas profetizam que vamos assistir a um regresso ao campo: incapazes de fazer frente às dificuldades e solidão das grandes cidades, as pessoas irão preferir regressar às origens e revitalizar com o seu regresso uma agricultura que está hoje pouco mais do que moribunda. O preço das casas nas grandes cidades atingiu valores ridiculamente altos, as despesas com transportes e outros serviços não param de crescer, não há vagas em creches e escolas, não há como envelhecer saudavelmente numa cidade.
Nós, que fizemos o caminho inverso há uns anos atrás, damos connosco agora a equacionar um futuro diferente e já há alguns meses que sonhamos com a tranquilidade da vida no campo. Eu sonho com as estradas secundárias desertas e esburacadas, ele com velhas casas abandonadas que podíamos restaurar; eu sonho com terra a perder de vista e o bebé Vicente a correr feito maluco entre oliveiras, ele sonha com um negócio e uma vida auto-sustentável. Não há nenhuma viagem em terras alentejanas em que não suspiremos por saber que a terra onde pertencemos nada nos oferece e sem lamentarmos não termos um pedaço de terra a que chamaríamos nosso.

Falta-nos um plano. E também uma estratégia. E ainda a certeza que essa seria a melhor decisão para o bem estar do bebé Vicente. E falta-nos acima de tudo a coragem de assumirmos uma mudança tão brutalmente radical nas nossas vidas, nas nossas rotinas e hábitos, nas nossas expectativas. E não sei se alguma vez teremos a coragem de mudar o que quer que seja, seja para o campo, para uma cidade pequena ou o estrangeiro. Mas temos que começar por algum lado e sabemos que something's gotta give. Quem sabe, um dia qualquer...

4 comentários:

ana disse...

Pode até ser mais cedo do que julgam... :)

http://digamquevoei.blogspot.com/

Anónimo disse...

Como eu percebo este discurso. Estou cada vez mais saturado do reboliço das grandes cidades...estou com os meus horizontes na terra que me viu nascer e apostar na vida no campo.

Dulce disse...

Muito interessante este prognóstico!

Espero que se cumpra, mais cedo ou mais tarde, sobretudo para nivelar o litoral urbano com o interior por estes dias amorfo e esquecido...

Eu, que cresci no campo, muito prezo a vida tranquila e cheia de coisas boas que se pode ter por lá. Não é que as grandes cidades sejam 'monstros', pois também têm coisas óptimas... como a oferta cultural diversificada, por exemplo.

De qualquer forma, quando regressar a Portugal vou fazer de tudo para ir morar para uma cidade que eu cá sei e que apesar de ter estatuto de 'cidade' permite um quotidiano muito tranquilo e o mundo rural ali mesmo ao lado :)

Anónimo disse...

Como eu vos compreendo :)