maio 18, 2012

Um desabafo maternal

(Escrevo a propósito deste post, desta capa e deste artigo.)

Ter um filho nos dias que correm (pelo menos em grandes centros urbanos e caso gostemos de ser pessoas informadas) é viver paredes meias com o excesso de informação e com a falta de tempo. Nunca a minha mãe se viu confrontada com metade das dúvidas que tive durante a gravidez e nos últimos dezanove meses. Posso mesmo dizer que aprendeu mais com mezinhas antigas do que com artigos e livros de pediatras, sites de gente informada, blogues de outras mães.

Eu li tudo o que devia e não devia nestes últimos dois anos. Eu comprei livros sobre a gravidez, vasculhei a internet à procura de opiniões e de consolo, à procura de mães que tivessem a mesma experiência que eu para me sentir menos sozinha e também menos culpada. Eu fiz um curso de preparação pré-parto, li os panfletos oficiais sobre alimentação, sobre vacinação e sobre o sono, fiz a asneira de comparar o meu filho com os outros, assustei-me com sintomas de doenças que ele nunca teve. Até que me cansei de prestar atenção a tudo.

Deixei de amamentar o Vicente aos oito meses de forma espontânea. Ele não ficava satisfeito apenas com o meu leite, eu estava exausta de tantas vezes acordar durante a noite e estava cansada desta dependência que começava assim que ele regressava a casa da creche. Lutei muito para sobreviver a esses oito meses porque tinha metido na cabeça que o iria amamentar mas nunca imaginei que fosse tão difícil. Para mim foi mas conheço muitas mães para quem todo o processo foi o mais natural do mundo. Não me senti minimamente culpada por deixar de amamentar mas senti-me, isso sim, triste por não prolongar esse laço com o meu filho. Na verdade, e para ser totalmente honesta, senti uma ponta de frustração, está dito. Mas ele alimentava-se bem e crescia sem precisar disso, pelo que depressa ultrapassei isso. Ler o artigo da Time fez-me admirar as mães que conseguem levar a amamentação a estágios que para mim continuam a ser impensáveis. Mas também me deixou um pouco enojada com esse conceito de ser mãe suficiente. E essa coisa do attachment parenting também me chateia um bocado porque os seus adeptos (talvez como eu e outras pessoas) comportam-se como se essa fosse a única maneira de criar e educar filhos. Não é, toda a gente sabe disso.

Depois há essa questão das creches. Parece que não é saudável que os bebés passem lá muitas horas, como se isso fosse uma espécie de notícia de última hora. Será que alguma mãe deixa o seu filho conscientemente feliz numa creche, sejam quais forem as condições? Eu não o faço e por isso falo apenas por mim. Não gosto de imaginar que lhe pegam ao colo, que lhe dão beijinhos, que o podem tratar de forma negligente, que briga com os outros meninos, que come mal. Mas as mães e os pais de hoje têm alguma alternativa? Em Lisboa nós já estávamos sozinhos mas aqui a falta de ajuda tem outra dimensão. Alguma vez eu poderia prescindir de uma creche nesta situação? A resposta é não e em Portugal ainda mais NÃO é. As sociedades não estão feitas para que as crianças possam crescer nos seios das famílias: não há apoio social suficiente na maternidade/paternidade, não há prestações familiares, os patrões odeiam mulheres que engravidam, há quem precise de dois ou mais empregos. As coisas aqui no Luxemburgo são diferentes mas a essência é a mesma: eu preciso de trabalhar para podermos viver melhor e preciso de uma creche para que isso possa acontecer.

Isto tudo para dizer o quê? Que me fartei das opiniões dos outros, especialmente daquelas mães fundamentalistas que sabem tudo e sabem até o que é melhor para os nossos filhos, dos especialistas que defendem essas verdades La Palice e até das pessoas, que não tendo filhos, se acham as maiores e desatam a dar palpites sobre a educação dos outros. Pelo menos com o nosso filho muita coisa daquela by the book não funcionou, bem como muitas opiniões nossas e dos outros. E essa é sinceramente a maior magia dele: um ser insondável, impossível de agradar, difícil de acalmar mas que no fim de tudo está a aprender a dar beijinhos e já sabe dizer cocó. E quando eu o vejo a rir, mesmo que seja depois da birra mais monstruosa de todos os tempos, isso diz-me que ele é feliz. O resto, suficiente ou não, certo ou não, que se lixe.

4 comentários:

Helena Barreta disse...

É claro que num mundo ideal as crianças não passariam tantas horas na creche e os pais podiam optar se os queriam na creche, ou em casa ou passariam o tempo com os avós. Mas todos sabemos que não vivemos num mundo ideal.

Cada mãe/pai faz o melhor que sabe e que na altura de tomar decisões e optar por isto ou por aquilo, fá-lo com a certeza que é o melhor para o seu filho, pode não ser o ideal, pode não ser aquilo que se queria muito, mas é o melhor, o mais sensato e o que nos dá a garantia que do mal o menos.

Irrita-me e sou pouco tolerante para quem faz juízos de valor, dá palpites e opiniões em decisões e escolhas/opções que não são suas, eu sou mais de cada um sabe de si e ponto final. Podemos não concordar, podemos ter feito de outra maneira com os nossos filhos, mas isso não nos dá o direito de pensar que nós é que estamos certos e os outros errados.

Eu dei de mamar cerca de três meses, pareceu-me pouco, mas que fazer se já não tinha leite? Não me senti mal pois não fui eu que dei azo a que isso acontecesse e não me sinto mais nem menos mãe, não sinto nem mais nem menos amor pelo meu filho por causa disso. Optei por ficar em casa até o meu filho ter três anos, pude fazê-lo, adorei cada dia, mas isso não me dá o direito de apontar o dedo aos pais que têm de escolher outra via. Só posso e só me permito dar o meu testemunho e dizer que para nós foi bom.

A educação dos filhos não é uma equação matemática que só pode ser vista e resolvida daquela maneira, quem disser o contrário, na minha opinião, está a fugir à verdade.

Há uma coisa que eu sei, é que todos nós, pais, fazemos o possível para que os nossos filhos sejam felizes.

Bom fim de semana. Um beijinho ao cachopinho.

Dalma disse...

Marisa, as crianças precisam apenas de se sentir seguras, independente das horas que passam no infantário. Nos meus primeiros dois foram para o infantário mal fizeram um mês (tem de licença de parto na altura), o terceiro já teve direito a três e confesso-te que estava farta de estar em casa: dar de mamar, mudar fralda, dar de mamar de novo...Estava desejosa de recomeçar com os meus alunos! Não sinto culpa nenhuma e os meus filhos nunca sofreram com isso pois sempre foram equilibrados quer como crianças, como adolescentes e hoje como adultos!
livra-te dessa ansiedade, essa sim é que os nossos filhos sentem!
beijinhos
A tua professora

Dalma disse...

Marisa, as crianças precisam apenas de se sentir seguras, independente das horas que passam no infantário. Nos meus primeiros dois foram para o infantário mal fizeram um mês (tem de licença de parto na altura), o terceiro já teve direito a três e confesso-te que estava farta de estar em casa: dar de mamar, mudar fralda, dar de mamar de novo...Estava desejosa de recomeçar com os meus alunos! Não sinto culpa nenhuma e os meus filhos nunca sofreram com isso pois sempre foram equilibrados quer como crianças, como adolescentes e hoje como adultos!
livra-te dessa ansiedade, essa sim é que os nossos filhos sentem!
beijinhos
A tua professora

Cor do Sol disse...

Aqui na Irlanda na maior parte das escolas crianças até aos 2 anos nao podem ficar mais que meio dia na escola e as mães têm a possibilidade de trabalhar a part time nessa altura. Há muitos incentivos e ajudas, demais até a meu ver que faz com que as pessoas se aproveitem das boas politicas sociais mas isso há em todo o lado. Se eu não tivesse a ideia de que um dia que decida engravidar quero voltar a Portugal ficaria aqui no meu emprego que me respeita como mulher e futura mãe. Em Portugal era completamente deprimente chegar a escola e ver lá bebes e sair de lá de pois de 7 horas de trabalho e 2h de almoço e eles ainda lá...não se faz mas muitas vezes (não em todos) os casos não há alternativa :( . No entanto, mesmo que se sintam seguros é tempo a mais para passar na escola. Eu até entendo os ciumes dos pais nestas alturas porque muitas vezes as crianças passam mais tempo com quem cuida delas durante o dia e muitas vezes o vinculo é gigantesco principlmente quando os pais não utilizam o tempo livre como tempo de qualidade com os filhos. Penso sempre na minha irmã com dois filhos pequenos e um horário de trabalho absurdo e depois vejo estas crianças aqui na Irlanda que saiem cedo e que vão para o parque brincar faça chuva, faça o quase inexistente sol.
Mas como já disse se se souber canalizar o tempo que se tem livre para o filho e não para o colocar em frente à televisão ele não vais ser menos feliz por isso :)