março 07, 2013

Emigrar (nos dias que correm)


Há quase um ano que cheguei ao Luxemburgo. Por esta altura, há um ano atrás, já sabia quando iria viajar mas ainda esperava pela viagem que mais me custou até hoje. Lembro-me de levantar voo do Porto, lágrimas nos olhos, sem saber quando iria voltar a pisar o meu país. Não demorou muito, felizmente, mas isso era algo que eu não podia prever.

De vez em quando deixam-nos na caixa de correio um jornal português. É o nome na caixa, preciso de me lembrar sempre que me pergunto como sabem que vivemos aqui. Em quase todas as edições, o mesmo tema: a emigração portuguesa para o Luxemburgo e, especialmente, os conselhos para não escolherem mais este país. Fico sempre um pouco deprimida com as histórias que contam e com a perspectiva com que retratam as pessoas que escolhem vir. Não há trabalho, podemos ler, e as pessoas devem pensar duas vezes antes de se fazerem ao caminho. É uma visão um pouco limitada do que é ser emigrante hoje em dia, porque partem do princípio que quem vem tem pouca formação e irá depender maioritariamente das agências de trabalho interim (uma praga aqui, ao que parece). Esquecem-se que hoje também saem do país outras pessoas, mais preparadas, mais viajadas, com mais formação e experiência fora do país.

Sei que há muita gente se interroga se deve sair ou ficar em Portugal. É claro que cada um terá a sua listas de prós e contras, cada um sentirá a crise e as dificuldades à sua maneira mas eu arrisco dar uns conselhos:
  • escolham bem o país para onde querem refazer a vossa vida. Preparem-se para as agruras da meteorologia, a falta de mar, as distâncias que tantos dias para intransponíveis e tentem perceber que serão sacrifícios por um bem maior;
  • não se estabeleçam num país onde não dominem a língua. Apesar de a língua oficial aqui ser o Luxemburguês, todas as tarefas administrativas, burocracias e rotinas diárias podem ser feitas ou em Francês ou em Alemão. Eu preferia viver num país anglófono mas sei o suficiente para poder funcionar em quase todo o lado;
  • tenham em consideração também a área onde querem trabalhar: não faz sentido instalarem-se num país onde o vosso mercado de trabalho esteja estagnado;
  • se possível procurem outras pessoas que tenham feito o mesmo percurso e peçam algumas dicas sobre o que precisam para chegar, para se registarem, para se estabelecerem. Há um alívio enorme em saber exactamente que formulários preencher, que guichet escolher, os horários das repartições públicas ou os documentos a apresentar;
  • não dependam demasiado dessas pessoas: provavelmente elas têm já o seu trabalho, a sua rotina e será difícil procurarem uma casa por vocês;
  • saibam exactamente quais são os vosso pontos fortes e como será a melhor maneira para venderem o vosso currículo: no nosso país, isto já é vital mas longe de casa é ainda mais importante convencer um entrevistador de que vocês são a pessoa certa para o lugar;
  • tentem não depender de agências para encontrar um emprego. O ideal seria encontrar um emprego antes da partida mas, à falta disso, apostem nas candidaturas online, componham o vosso perfil e estabeleçam uma rotina diária de procura de emprego;
  • aceitem com um sorriso tudo o que o novo país vos quiser dar. Para mim, os primeiros tempos de emigrante são de uma fragilidade gigantesca e por isso é ainda mais importante estar disposto a transformar.
É claro que cada caso é um caso e que cada saída tem na sua base uma história. Da mesma fora, as histórias nem sempre terminam em sucesso, pelo que é obrigatório não desanimar e enfrentar os obstáculos e as dificuldades apenas como uma parte obrigatória do caminho. Na maior parte das vezes, conseguimos depois olhar para trás e rir desses momentos. Nestes últimos tempos, ouvi muitos comentários de pessoas que acham que a coragem não é sair mas sim ficar em Portugal. Eu cá acho é que falta de coragem é não seguirmos o caminho que sentimos como nosso. Por isso, ficando ou partindo, interessa é lutar e isso podemos fazer em qualquer lado.

1 comentário:

Alix CH disse...

Olá,
gostei de ler. Também não consigo encontrar emprego na minha área e pondero emigrar, mas não sei para onde me virar...
Boa sorte! ♡