maio 27, 2013

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 "[...] Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem. [...]" 

Acontece que me cansam as pessoas. É claro que o trabalho me cansa muito mas são acima de tudo as pessoas que me deixam à beira da exaustão. Acontece que me aborreço com a falta de brio e rigor, bem como com a incapacidade de ver além do imediato. Não sei demonstrar quão cansada me senti nas últimas duas, três semanas e tudo graças a pessoas. Vazia, inerte em todos os dias que cheguei a casa e não desejei mais do que uns merecidos momentos de apatia no sofá. Incapaz de sentir alegria nos meus passatempos, impossibilitada de me ocupar das tarefas domésticas pelo cansaço. A sonhar com pessoas e problemas todas as noites, pensar em soluções debaixo do chuveiro, desanimada com a falta de acção de quem podia algo contra tudo isto. As pessoas, para evitarem a confrontação do óbvio e do que necessita ser resolvido, preferem enfiar a cabeça na areia e fingir que nada acontece. Mas é tudo até ao dia em que a bomba não rebenta no quintal mas sim no seu próprio colo e já é tarde demais para qualquer reacção. Acontece que me canso de demonstrar as minhas frustrações com base em evidências e factos e tudo o que recebo de volta ou é negação da realidade ou um espírito inutilmente apaziguador. Eu não quero ser esta pessoa que se deixa consumir por problemas que na realidade não são dela mas acontece que me enfio de cabeça e estômago e coração nas coisas que faço. Nunca soube fazer de outra maneira mas talvez comece a chegar a altura de aprender. Acontece que me canso de mentiras, de hipocrisia, de inércia e esquemas ardilosos para mascarar as incompetências. Eu não preciso disso, viver já é suficientemente difícil sem jogos desse tipo. Mas estas pessoas estão em todo o lado, vejo-o agora. Não é uma questão de nacionalidade ou de género, é apenas uma questão de mau carácter. Enquanto vinha a pensar nisto no carro, dei-me conta que isto pode soar a "Oh é o Mundo contra mim" mas posso assegurar que não se trata disso. Erros? Cometo-os como outra pessoa qualquer mas ouço opiniões, procuro outras maneiras de ver o mesmo, aceito críticas construtivas. Capacidades? Tenho as minhas e sei como não são aproveitadas, mesmo tendo consciência dos meus limites. Acontece que quando me moem durante semanas a fio, também chega o dia em que preciso respirar fundo e assumir que já não está na minha mão. E em vez de berrar ou gritar, vou pensando e repensando os acontecimentos para ter a certeza que não sou eu que estou a ser cega ou injusta ou parcial. Acontece que as pessoas me cansam mais e mais e quando dou por mim já não sinto falta de fazer amigos ou conhecidos. Amanhã, depois tudo passa e o cansaço desaparecerá. Até lá, ou até ao momento em que a bomba rebente, não gosto de pessoas e fico-me por aqui.

* extracto do poema Walking Around de Pablo Neruda que podem ler, por exemplo, aqui.

2 comentários:

Helena Barreta disse...

Sim, a vida seria bem mais fácil se houvesse respeito, boa-fé e educação e sinceridade entre todos.

Dalma disse...

Estás de férias neste país cheio de sol e quando regressares tudo te parecerá menos cinzento! Beijinhos e goza muito,mesmo muito aquilo de que tens saudades!