novembro 06, 2015

36 ou a salganhada de sentir tudo ao mesmo tempo

(nota prévia: este não é um post luminoso sobre aniversários.)

Cheguei aos trinta e seis. Dobrei, portanto, aquele marco invisível da meia idade para viver a segunda metade da minha vida e possivelmente nunca me senti tão confusa, um pouco perdida.

Não se deixem enganar: eu gosto de fazer anos. Mas apenas porque é um dia que me faz sentir especial, não porque goste de sentir os anos a passar. E o pior é que nem estou a envelhecer bem: é o baby weight que teima em ficar, é o cabelo quase todo branco a emoldurar a minha cara, a fragilidade das minhas mãos. Ultimamente, em todas as vezes que me apanho em frente ao espelho ouço a mesma pergunta: mas quem raios és tu? Não era suposto que a resposta fosse fácil, trinta e seis anos depois de chegar ao mundo? Não era tão mais simples não fazer perguntas e, cúmulo da serenidade, não pensar sequer?

Cheguei aos trinta e seis com dois filhos e num estado de exaustão que me preocupa. Cheguei aqui e há dias em que eles são aquilo que me define: se os amei tudo o que pude, se lhes dei banho a correr, se consegui não gritar. Cheguei aqui e às vezes parece que eles são tudo o que interessa, mesmo quando me lembro que eu sou a minha própria pessoa, com desejos, falhas, neuras e vontades. Talvez por estar em casa há tantos meses mas eles ocupam-me tanto espaço no pensamento que só acordo do torpor às vezes, um número minúsculo de momentos em que resolvo ser só eu.

Trinta e seis anos, porra. Imagino como se sentirão os meus pais a olhar para mim e ainda a conseguir ver o bebé que fui, imagino olhar para os meus filhos com trinta e seis anos. Como é que se pode aceitar a crueldade do tempo com um sorriso nos lábios? Se calhar com trinta e seis anos percebi que não estou aqui para sempre, vou abrandar e ficar velha, se calhar definhar enquanto os meus filhos se tornam pessoas. Se crescer é ficar mais sábio, mais complacente, porque é que pensar na finitude custa tanto?

Tenho hoje trinta e seis anos e começo a sentir-me excluída da novidade, do entusiasmo dos mais novos. Vejo aquela malta a entrar para a faculdade e penso Mas espera lá, ainda há pouco eu estive ali. Só que não, entrei há quase vinte anos para a faculdade, dito assim parece ridículo e irreal mas é dolorosamente verdade. Vinte anos em que vivi tanto e que hoje me parece tão pouco. Algum dia vai chegar?

Hoje comemoro os trinta e seis anos. Se estou mais sábia, não tenho notado. Estou talvez mais paciente, mais apaziguadora. Esqueço-me dos grandes gestos para me concentrar nas micro vitórias que uma vida longe do meu país e da minha gente me dá. Estou um pouco desiludida com o que consegui até aqui e com o que me custa tantas vezes dar a volta por cima. Pergunto-me mais coisas do que aquelas que gostaria: é isto, ser feliz? Posso eu algum dia sentir que me cumpri? Só sei dizer não sei, repeti-lo até à exaustão. Que aos trinta e sete tenha já encontrado altumas respostas mas por agora preciso de me habituar a dizer trinta e seis.

Sem comentários: