maio 05, 2017

Quase um mês de Portugal

Estou cá quase há um mês, parece mentira. Primeiro éramos cinco, depois ficámos três.

Como sempre, fui naive e pensei que poderia descansar um pouco. Afinal, os meus pais (e, ocasionalmente, a minha avó) têm tempo para ajudar. Mas, como sempre, não é isso que tem acontecido. É o que dá ter uma filha que tem uma personalidade exuberante, à falta de outro adjectivo. A necessidade dela de chamar a atenção tem crescido e tem sido difícil de conter e por isso, se ela estiver acordada, é sempre preciso chamá-la, convencê-la, afastá-la, acalmá-la, gritar, impedi-la, guiá-la, compreendê-la, inspirar fundos vezes infinitas, recordar que ela não tem segundas intenções e só quer centro o centro das nossas atenções. Faz-me sentir que estou a falhar a toda a prova, sinto-me frustrada por não encontrar a maneira certa de me fazer ouvir, mesmo quando me lembro que todo este desnorte é o resultado de ainda não saber comunicar decentemente e de estar a competir pela atenção com o mais novo da casa. Isto não são os terrible two, são os monstruous, fearful two e eu não estou preparada para que isto ainda piore um pouco. Valem-me os momentos em que ela é uma miúda doce, enviado beijinhos a toda a gente, espalhando Bonjours por todo o lado, aprendendo mais e mais palavras em Português (sendo coitadinho! a minha preferida, cortesia da minha avó que a repete frequentemente para o bebé), dançando as canções do Panda. É um equilíbrio super ténue entre um pequeno monstrinho indomável e um docinho bilingue e picuinhas.

O senhor Augusto deixa pouco para contar. Mama e dorme infinitas vezes melhor que os seus irmãos, distingue na perfeição o dia da noite, é simpátivo e risonho quando está acordado e só sofre ainda um pouco da sua barriguinha mas melhora a olhos vistos. Agradeço ter-me calhado em sorte um bebé assim porque se tivesse um bebé chorão ou um bebé que precisasse de estar sempre colado a mim ou que precisasse de imensa atenção - bem, o cocktail seria explosivo com a sua irmã do meio.

No meio destes dois, tem-me sobrado tempo para ver alguns amigos e família, vi uma mão cheia de episódios em atraso, consegui ler um livro (E a noite roda, da Alexandra Lucas Coelho, o seu primeiro romance, inspirador e comovente e, ao mesmo tempo, um valioso testemunho histórico sobre o conflito israelo-palestiniano), cozinhei uma ou duas vezes. Tenho planos para ler mais três livros na semana que falta até voltar a casa, já perdi a esperança de aprender a tricotar uma camisola (lãs, agulhas e uma diva de dois anos não combinam de maneira nenhuma...) e ainda espero bordar qualquer coisa em ponto cruz. Não sei de onde vem esta vontade grande de trabalhos manuais mas gostava de descobrir alguma coisa em que fosse boa para me distrair e oferecer aos outros. Não são exactamente as férias de que estava a precisar mas são as melhores que se podem arranjar e sinto-me grata por isso.

1 comentário:

Dalma disse...

Precisamente no dia em que estivemos as duas li no escaparate das revistas, mas não sei em qual, o seguinte:"os príncipes (os ingleses) falam da personalidade vincava da sua filha Carlota", que pelos vistos acabou de fazer dois anos. Como vez a tua princesa tem companhia!