março 15, 2018

É uma casa cheia!


Talvez a coisa que mais ouvi desde que temos três filhos seja a frase "É mesmo uma casa cheia!". Parece que a opinião geral de ter uma casa cheia é sempre muito positiva mas eu acho que é porque estas pessoas não têm que intervir a cada cinco segundos, ou para evitar que uma irmã estrafegue o mais pequeno, ou para evitar que o mais velho roube as coisas à irmã do meio, ou para evitar que a irmã do meio dê conta dos outros dois. É divertido, é, mas é extenuante na mesma medida e há uns cinco anos que a única coisa que me apetece fazer depois de jantar e metê-los na cama é - justamente - enfiar-me na cama também.

Cada família é diferente, eu sei, mas eu tendo sempre a comparar-nos com as famílias com crianças sossegadinhas, que não armam birras por absolutamente TUDO, que respondem com calma e atenção às nossas tentativas de argumentar e chamá-los à razão. É mais forte do que eu, mesmo que eu o combata todos os dias. É inevitável pensar muitas vezes "Mas o que é que eu estou a fazer mal?". Penso-o várias vezes ao dia, quando estou com os miúdos e não consigo dois minutos de sossego. Mas na verdade eu sei qual é a maior causa dos nossos problemas: com o Vicente, ele era só um. Tinha-nos aos dois concentrados nele a cem por cento, havia tempo para actividades e trabalhos manuais e mesmo assim ele fazia aquela birra ocasional. Fast forward para os dias de hoje: os filhos ultrapassam-nos numericamente, não há atenção que chegue para pessoas de sete, três e um ano, há uma rapariga que tem o feitio mais exasperante que já vi na minha vida, há um bebé que está literalmente a aprender a fazer tudo, há um irmão mais velho que, de vez em quando, se ressente e quase pede para voltar a ser bebé. Colo há sempre para os três, cabeça para parentalidade positiva é que está mais escassa.

Com três filhos, há que repensar o espaço que necessitamos para eles. Não só para dormir ou brincar mas também para guardar todos os desenhos, cartões, colagens, recortes, fotografias e demais trabalhos manuais que vão fazendo ao longo dos anos. Com um filho, ainda se arranjava um espacinho para expor as suas obras de arte. Com dois, a coisa ficou realmente mais difícil. Quando o terceiro começar a artes manuais, o melhor mesmo é mudarmos de casa para alguma que dê para manter um pequeno museu!

Mas há mesmo coisas muito boas quando se tem três filhos. Quando eles se controlam e chegam mesmo a brincar os três - o que aconteceu para aí uma vez, para ser honesta - é delicioso de se ver. Quando encontram uma brincadeira divertida e se riem a bandeiras despregadas, é maravilhoso de se ouvir. Quando se preocupam uns com os outros, quando parece que não sabem viver sem os irmãos, o coração acelera. Quando tomam banho juntos (e não estão ocupados a esvaziar a banheira), é incrível ver o nosso ADN a chapinhar todo junto num sítio tão apertadinho. Quando estão todos a dormir (podia brincar e dizer que é a melhor parte do dia...) e eu ouço as suas respirações tranquilas, sinto-me com toda a sorte do mundo. De vez em quando, no meio das queixinhas, dos gritos, das rasteiras e empurrões, das birras inexplicáveis, dos sonos a que às vezes todos parecem querer resistir, sinto que estamos a fazer um bom trabalho. Vejo-os a rir, saudáveis, a formar a sua personalidade, a progredir na sua educação, a desenvolver a empatia e a sua relação com os outros e, durante alguns minutos, tudo parece estar no seu lugar. Até que um grito noutra divisão me desperta do sonho e vou a correr separar mais uma disputa pela coisa mais banal e desinteressante que temos em casa. Casa cheia sim, monotonia é que nunca mais!

1 comentário:

Dalma disse...

Desculpa, querida, mas o cenário que descreves é-o cenário onde habitam 5 pessoas felizes!
Um dia dirás: como o tempo das birras, das disputas... passou tão depressa!